Agressividade e as Artes Marciais
Autora: Dra. Patrícia Sebastião
Psicóloga Clínica
Resumo do trabalho académico de Dissertação de Mestrado sob o título:
“Frustração-Agressão em Praticantes de Artes Marciais Tradicionais de Acordo com o Nível de Experiência”
A agressividade é um problema cada vez mais actual com que pais e professores têm de lidar diariamente. Vivemos numa época em que todos se queixam da insegurança, do aumento da criminalidade, da delinquência juvenil, da violência televisiva, das “crianças-problema”, do abuso da autoridade, do mundo... Mais do que compreender as suas causas, há que mudar comportamentos. No entanto, torna-se difícil motivar “jovens rebeldes” a aderirem a algo tão abstracto como a terapia verbal.
Poderão as Artes Marciais Tradicionais auxiliar neste processo?
Poderá o Mestre (professor de Artes Marciais) trabalhar conjuntamente com o psicoterapeuta na construção de respostas alternativas á agressão?
Poderá o Dojo (escola de Artes Marciais) funcionar não só como compartimento estanque de toda a energia acumulada durante um dia repleto de situações indutoras de stress, mas também como escola de valores?
Embora seja relativamente bem aceite que, de um modo geral, é possível criar uma atmosfera desportiva que fomente a socialização dos praticantes, quando falamos de Artes Marciais as opiniões divergem. De um modo geral, as Artes Marciais são confundidas com os desportos de combate, e dificilmente se conseguem dissociar de uma conotação negativa em que a agressividade é apontada como uma característica inerente aos seus praticantes.
Nos Estados Unidos da América a negligência parental e a violência doméstica atingiram valores preocupantes, causando graves cicatrizes emocionais nas crianças, que as transformam progressivamente em adolescentes rebeldes.
Diversos projectos de intervenção, quer com vitimas de violência, quer com agressores, têm incluído diferentes Artes Marciais no seu programa, e avaliado os seus efeitos. As Artes Marciais surgem como uma alternativa aliciante, na medida em que preenchem as necessidades de segurança, filiação e “status” destes jovens, permitindo simultaneamente
descarregar a energia acumulada.
O Mestre torna-se o “modelo” a seguir, e a componente espiritual uma “forma de vida”, em que a violência é rejeitada em qualquer contexto.
Temos, no entanto, que fazer a distinção entre as Artes Marciais Tradicionais, na sua
componente mais pura embora adaptadas á vida moderna e as recém formadas modalidades que se afastam progressivamente dos valores ancestrais.
A competição surge como uma faca de dois gumes pois, embora contribua para uma maior divulgação da modalidade, gera frequentemente uma “corrida” aos cintos/graduações e aos prémios de jogo, o que acaba por deturpar a verdadeira essência da Arte Marcial.
Neste sentido, o presente estudo incidiu sobre 30 praticantes de Artes Marciais tradicionais, do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos. Tendo sido comparado um grupo de 15 praticantes de nível iniciado com um segundo grupo de praticantes de nível avançado, no que concerne ao tipo de reações perante situações de frustração, constatou-se que os praticantes mais experientes manifestavam menos atitudes agressivas perante as situações propostas. Mais ainda, os praticantes de Goshinjujutsu, mesmo os de nível iniciado, revelaram, em alguns parâmetros, níveis de agressividade inferiores aos da população geral masculina portuguesa.
Assim sendo, o estudo elaborado vem demonstrar que a prática de Goshinjujutsu, na sua vertente tradicional, induz mudanças positivas nos seus praticantes, nomeadamente perante situações de frustração.
A tradicional arte do Goshinjujutsu é hoje seguida por uma grande maioria de praticantes, que querem manter vivo o espirito guerreiro das técnicas de luta da arte. Não entram em competições e o seu único objectivo é a continuação da pureza mental, espiritual e física da arte.
Benefícios do Goshinjujutsu
- Aptidão e flexibilidade
- Auto-disciplina e atitude positiva
- Camaradagem
- Confiança e bem-estar
- Consciência e alerta
- Habilidade de autodefesa
- Redução do stress
- Sociabilidade e cortesia